Brasil continua entre os países mais caros para se viver; entenda como a autonomia do Banco Central é questionada diante da política monetária adotada

O Comitê de Política Monetária (Copom), vinculado ao Banco Central (BC), decidiu, nesta quarta-feira (19), aumentar novamente a taxa básica de juros, a Selic, em um ponto percentual. Com essa elevação, a taxa atinge 14,25% ao ano, consolidando o Brasil como uma das nações com os maiores custos de vida e maiores dificuldades para o desenvolvimento econômico.
De acordo com Juvandia Moreira, presidenta da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e vice-presidenta da Central Única dos Trabalhadores (CUT), essa política monetária prejudica a população e favorece apenas um seleto grupo de investidores. “O Brasil há anos mantém uma taxa de juros abusiva, que influencia diretamente no aumento dos custos bancários e beneficia apenas uma minoria de rentistas”, destacou.
Ela ainda lembra que a última redução da Selic ocorreu em maio do ano passado, quando a taxa já estava em 10,50%. Desde então, o índice voltou a subir a cada reunião do Copom, ampliando os impactos negativos na economia. “Essa política faz com que tenhamos uma das maiores taxas de juros reais do mundo, o que encarece a vida da população, prejudica o crescimento das empresas e aumenta os gastos públicos”, enfatizou.
A justificativa do Banco Central e as críticas dos especialistas
O Banco Central argumenta que a alta da Selic é necessária para conter a inflação, especialmente diante do aumento dos preços dos alimentos e da energia. A lógica é que, ao elevar os juros, o consumo diminui, reduzindo a demanda e, consequentemente, os preços.
No entanto, essa explicação é questionada por especialistas. O secretário de Assuntos Socioeconômicos da Contraf-CUT, Walcir Previtale, contesta essa teoria, afirmando que a alta no custo desses itens não é impulsionada pelo consumo, mas por fatores climáticos e externos.
“A elevação nos preços de alimentos como café e ovos está relacionada a condições climáticas adversas e ao aumento das exportações, não ao consumo interno. Da mesma forma, o custo da energia subiu devido à escassez de chuvas, que afetou os reservatórios das hidrelétricas”, explicou Previtale.
Um remédio errado para a crise econômica
O economista Gustavo Cavarzan, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), criticou a decisão do Banco Central, comparando a política adotada a um tratamento ineficaz. “O uso da Selic para controlar a inflação gerada por fatores climáticos e externos não funciona, porque essa elevação nos preços não está ligada ao consumo das famílias”, destacou.
Ele defende que, em vez de aumentar os juros, o país deveria adotar medidas como a recomposição dos estoques reguladores de alimentos e a ampliação da matriz energética para garantir maior estabilidade nos preços.
A manutenção da Selic em patamares tão elevados tem gerado preocupações em economistas de renome mundial. O professor da Universidade de Columbia e Prêmio Nobel de Economia, Joseph Stiglitz, afirmou que essa política monetária tem prejudicado o crescimento econômico brasileiro. “Manter taxas tão elevadas por tanto tempo é como aplicar uma ‘pena de morte’ ao crescimento econômico do país”, alertou.
Autonomia do Banco Central em xeque
Para o vice-presidente da Contraf-CUT, Vinícius Assumpção, as decisões do Copom colocam em dúvida a real autonomia do Banco Central. “Se a entidade fosse realmente independente, não estaríamos enfrentando uma taxa de juros tão elevada, que impede o crescimento econômico, prejudica os trabalhadores e torna o crédito inacessível”, destacou.
Ele ainda ressaltou que as altas taxas de juros têm impacto direto na vida do consumidor, especialmente em financiamentos. “Hoje, ao financiar um carro, o brasileiro paga o equivalente a dois ou três veículos devido aos juros abusivos”, criticou Assumpção.
Lucro para poucos, prejuízo para muitos
Os principais beneficiados com essa política são os detentores de títulos da dívida pública, especialmente as grandes instituições financeiras. Segundo dados do Dieese, em 2023, o governo federal gastou mais de R$ 732 bilhões apenas com o pagamento de juros desses títulos. Esse valor representa:
• 4,3 vezes o total investido no programa Bolsa Família;
• 8 vezes os recursos destinados ao novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC);
• 3,3 vezes o orçamento anual para a área da saúde;
• 5 vezes o montante investido na educação.
Essa política monetária tem gerado debates intensos, com especialistas e entidades sindicais alertando para os efeitos negativos que impactam diretamente a população, aumentando o custo de vida e dificultando o crescimento econômico do país.
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